Apreço

A menina corria sorridente pela casa, totalmente alheia ao fato das delicadas sandálias escorregarem no piso liso. Trazia consigo, segurado com firmeza em uma das mãos, um pequeno pedaço do que um dia foi uma manta de crochê.
A tira de pano era pequenina e em formato retangular, parecendo, aos olhos dos outros, apenas um pedaço de pano inútil. Até poderia ser. Mas não para a garota.
Nos breves momentos em que não estava correndo, a menina repousava o tecido logo abaixo do nariz. Aliás, foi dessa mania que surgiu o seu nome.
Cheirinho.


Assim era chamado, por sua dona, aquele valioso objeto cor de creme que tão pouco valia. Era o seu melhor amigo. Independente do que ocorresse, sabia que, se estivesse com o cheirinho, poderia se tranquilizar.
Quando levava o tecido até as narinas, sentia o perfume de sua mãe. Aroma de conforto, segurança e paz. Um pedacinho de quem amava, feito com carinho, a partir de uma de suas mantas. Quando mamãe não estava, bastava agarrar o objeto com força e recordar de que, logo logo, ela voltaria do trabalho.
Quem diria que um pedaço de pano poderia ser tão precioso para aquela garotinha, mais importante até mesmo que a boneca, os jogos e os bichinhos de pelúcia!
O valor das coisas está justamente no olhar que damos a elas.

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Criado por: Andréa Bistafa.
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