O homem que não sorria

Marco Simões era um homem tão sério que raramente esboçava um sorriso. Como Diretor Comercial de uma importante empresa do ramo da moda, o empresário acostumou-se a manter a postura séria e autoritária, de forma a impor respeito aos funcionários. Seu semblante, de tão fechado, tornou-se uma espécie de máscara. Mesmo longe do trabalho, nos raríssimos momentos com a esposa, sua carranca continuava presente.
Luci já havia se acostumado com a expressão séria do marido. Ela o considerava um bom homem, apesar dos poucos momentos que dispunham juntos, afinal, Marco estava sempre muito atarefado, seu trabalho tomava-lhe praticamente todo o tempo. A esposa tentava e tentava, mas nunca conseguia roubar-lhe um sorriso, que até poderia se formar em sua alma, mas sumia e morria antes de se materializar em seu rosto.
Nada parecia conseguir estampar um riso na face do homem. Nem mesmo os longos meses de gestação da esposa conseguiram tal proeza. O marido se sentia feliz, mas não conseguia expressar. Foram tantos anos sem sorrir que seu cérebro parecia ter se esquecido de como fazê-lo, como se os músculos do sorriso tivessem atrofiado. Marco não sabia mais sorrir, a carranca amarga do trabalho o acompanhava, querendo ou não, para aonde quer que fosse.

Quando paramos de pensar?

A globalização trouxe tudo ao alcance das mãos. Ou ao alcance de um clique, melhor dizendo. A tecnologia fez maravilhas pelo mundo moderno e somos frutos de uma era onde tudo se encontra fácil e sem o menor esforço.
Por outro lado, estamos tão envoltos em rotinas cada vez mais apressadas que fazemos quase tudo no modo automático. Precisamos trabalhar, estudar, limpar a casa, cuidar dos filhos, resolver problemas pessoais, fazer compras, tudo em apenas vinte e quatro horas diárias. E, é claro, quando sobra tempo também queremos assistir ao futebol, ao filme novo ou à novela das nove.
E deixamos cada vez mais de pensar. Temos tudo tão fácil que o livre arbítrio, a vontade de buscar a essência da vida, de buscar conhecimento, é deixada de lado pelas necessidades e pelo supérfluo do dia-a-dia.
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Criado por: Andréa Bistafa.
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