Durante a minha infância, até os doze anos, meus
domingos eram reservados para visitar meus avós paternos. Eu ia com meus pais e
irmã religiosamente, todas as tardes de domingo, independente de chuva ou sol.
A conversa ia e vinha na casa dos meus avós,
mesmo que às vezes eu insistisse com meu pai para voltar mais cedo, pois queria
jogar vídeo-game. Contudo, nunca íamos embora sem antes desfrutarmos de um
típico café da tarde em família.
O café era simples, mas repleto de carinho. O
pão francês quentinho, a fatia de queijo, o presunto e o cheirinho de café passado na
hora, de um jeito especial que ninguém mais fazia. Um café forte, doce e com
espuminha em cima, do jeito que eu gostava.
Conforme fui crescendo, adicionei outro ponto
importante aos meus tradicionais domingos: não ia para casa sem antes
contemplar a vista da varanda dos meus avós. Como a casa ficava no segundo
andar, podíamos ver toda a cidade lá de cima, o que era espetacular para uma
garota tão pequena como eu.
Pelo menos vinte minutos da minha tarde eram
reservados para olhar as casas, prédios, ruas e pormenores da cidade. Às vezes
inventava de admirar as nuvens, imaginando formas e pessoas para elas, me
perdendo na imensidão de um horizonte tão grande e profundo, de certa forma,
intimidador.
Claro que esses detalhes eram apenas
coadjuvantes da história. Os protagonistas dos meus domingos eram meus avós,
com suas conversas empolgadas e a companhia inexplicavelmente agradável.
Coisa de avó e de avô.
Essa tradição acabou se perdendo quando o
inevitável ocorreu, mas posso afirmar com convicção que as lembranças jamais
deixarão de viver na parte mais profunda da minha alma. Se minha infância teve
um sabor, foi o de café da tarde. Hoje meu café não tem mais tanto açúcar,
muito menos espuma, mas o pior mesmo é o gosto amargo da saudade...
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