Marco Simões era um homem tão sério que
raramente esboçava um sorriso. Como Diretor Comercial de uma importante empresa
do ramo da moda, o empresário acostumou-se a manter a postura séria e
autoritária, de forma a impor respeito aos funcionários. Seu semblante, de tão
fechado, tornou-se uma espécie de máscara. Mesmo longe do trabalho, nos
raríssimos momentos com a esposa, sua carranca continuava presente.
Luci já havia se acostumado com a expressão
séria do marido. Ela o considerava um bom homem, apesar dos poucos momentos que
dispunham juntos, afinal, Marco estava sempre muito atarefado, seu trabalho
tomava-lhe praticamente todo o tempo. A esposa tentava e tentava, mas nunca
conseguia roubar-lhe um sorriso, que até poderia se formar em sua alma, mas
sumia e morria antes de se materializar em seu rosto.
Nada parecia conseguir estampar um riso na
face do homem. Nem mesmo os longos meses de gestação da esposa conseguiram tal
proeza. O marido se sentia feliz, mas não conseguia expressar. Foram tantos
anos sem sorrir que seu cérebro parecia ter se esquecido de como fazê-lo, como
se os músculos do sorriso tivessem atrofiado. Marco não sabia mais sorrir, a
carranca amarga do trabalho o acompanhava, querendo ou não, para aonde quer que
fosse.
Quando Vitória chegou ao mundo, não faltaram
motivos para comemorar. A primogênita do casal veio saudável, forte e dona de
uma beleza sem igual. Seus olhinhos cor de mel, contrastando com a pele branca,
levemente avermelhada, encontraram os do pai no mesmo instante em que um
sorriso explodiu em seu rosto. Sem conseguir pensar em mais nada, o riso
naturalmente formou-se em seus lábios, invadindo os olhos e a alma do homem.
Vitória não só conseguiu seu sorriso, como também o roubou para ela.
Marco nunca mais se esqueceu de como a vida poderia
ser muito mais bela com um sorriso. Vitória!
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