Olá!
Como alguns já sabem, além de crônicas eu também escrevo contos (na maioria de terror e suspense), mas não costumo postá-los aqui, pois prefiro deixá-los para publicação (em coletâneas de editoras ou no meu próprio livro de contos futuramente). Mas como hoje é sexta-feira 13 e não queria passar em branco, resolvi postar um conto que escrevi baseado em fatos reais, sobre o misterioso caso que permeou o imaginário de uma cidade toda por vários dias. Então, se tiverem coragem, continuem lendo! :)
A Casa Sangrenta
É sexta-feira. Estou na escola, lutando para
assistir à aula ao invés de cochilar sob os livros. A aula de física é
realmente monótona e o fato de eu não ter a menor afinidade com a matéria a
torna dolorosamente cansativa. Percorro meus olhos ao redor, na tentativa de
encontrar alguém igual a mim. Encontro. Monique está bem ao meu lado, olhando para
os lados com desespero.
— Aula chata — ela sussurra
entredentes.
Assinto.
— Bota chata nisso — respondo.
Olho de relance para o
professor, mas ele está de costas para nós, escrevendo no quadro negro.
— Você está sabendo
da casa sangrenta? — Monique cochicha.
— Que casa? —
pergunto curiosa.
— Uma casa do Jardim
Bizarro. Está jorrando sangue do chão.
Quase caio da cadeira. Será
que minha amiga está querendo me pregar uma peça?
Olho com dúvida e ela
percebe a hesitação em meus olhos.
— É verdade, vi ontem
no noticiário.
Abro a boca para falar, mas
me deparo com o professor me encarando de cara feia.
— Agora não é hora de
conversa — diz de forma ríspida.
Ok. Pego minha caneta e começo a copiar a
tortura da lousa até soar o bendito sinal do intervalo. Eu e meus amigos reunimo-nos
no pátio, com a misteriosa casa novamente sob foco:
— Vocês ouviram falar
da casa sangrenta? — pergunta Monique novamente, agora para todos ouvirem.
— Deve ser mentira —
digo.
— Não, é verdade sim,
também vi no noticiário! — dispara Jeff, nosso colega.
— Mas que história é
essa, afinal? — pergunta Liana, confusa.
— Vi ontem no
noticiário. Uma casa no Jardim Bizarro, aqui na cidade, está brotando sangue
do chão. A polícia foi lá e confirmou que é sangue humano. Mas o problema é que
ninguém sabe como isso está acontecendo. Os moradores são um casal de idosos e
eles estão muito assustados — diz Monique.
— Ouvi falar que tem a
ver com o nome do bairro que eles moram. Jardim Bizarro. Não deve ser coisa boa
— diz Jeff.
— Não acredito nisso!
Como é possível brotar sangue do chão?! — digo perplexa.
— É o que estão
investigando. Um repórter disse ter visto o sangue simplesmente aparecer no chão
e começar a jorrar.
Sinto calafrios percorrerem
todo meu corpo. Minha boca está seca e minhas mãos suam. De repente lembro que
ficarei a tarde toda em casa sozinha e sinto um nó fechar-se em minha garganta.
— E o que vocês acham
que é? — pergunto.
— Estão falando por
aí em magia negra — diz Jeff.
— Serão entidades
demoníacas? Fantasmas? — Liana diz quase gaguejando, visivelmente
pálida.
— Estão falando
também que pode ser um caso de assassinato. Podem estar querendo incriminar o
casal de idosos. Afinal, de quem é todo esse sangue? — diz Monique
pensativa.
Suspiro. O intervalo acaba e
ainda não resolvemos nada. Na verdade, toda essa conversa só serviu para deixar
meus nervos à flor da pele.
A aula termina e vou para
casa sem conseguir tirar a história da cabeça. Ainda mais porque ficarei
sozinha até de noite, hora em que meus pais voltam do trabalho. Decido vasculhar
a internet em busca de informações e, felizmente ou não, encontro uma leva de reportagens
sobre o misterioso caso.
Todas enfatizam os mesmos
acontecimentos: sangue humano brotando do chão sem nenhuma explicação ou motivo
aparente. Sem horários pré-estabelecidos. O casal de moradores se recusa a
deixar a casa, mas estão visivelmente assustados. As outras famílias do Jardim
Bizarro estão rezando em frente a casa. A notícia parece ter chamado a atenção
de religiosos e também caçadores de atividades paranormais, que se revezam em
frente à residência, barrados pelo casal de moradores, sem permissão para
entrarem.
Quando o noticiário da noite
começa, corro em frente à televisão para acompanhar alguma novidade. Há vários
relatos sobre o caso, mas novidade que é bom, nada. Eles mostram fotos do chão ensanguentado.
Um vermelho vivo, espesso. Mas não há nenhum vídeo do momento em que o sangue
começa a brotar. Se pelo menos os moradores fossem mais jovens, penso instintivamente.
O vídeo já poderia estar no YouTube.
Olho fixamente para o chão
da minha própria casa por alguns segundos. Imagino uma pequena gota de sangue e
meu corpo se contrai. Estremeço.
— Vem jantar, Nanda —
mamãe me chama.
Levanto e sacudo os
pensamentos. Por um momento, fico feliz por morar bem longe do Jardim Bizarro.
*
Caio num sono agitado. Sonho
que estou em casa, sozinha, em meio ao breu da madrugada. Há apenas um pequeno
feixe de luz entrando pelo jardim de inverno. Estou de pé no começo do corredor
e, à minha frente, começam a surgir espessos jatos de sangue do chão. O sangue
é vermelho escarlate e borbulhante. Parece estar fervendo. Em fração de segundos
todo o corredor lança jatos de sangue para cima, uma corrente vermelha e quente
me alcança segundos antes de eu acordar.
Abro os olhos, meu coração
está disparado. Suo por todos os poros, meu cabelo se junta em mechas úmidas.
Seco os olhos molhados e tento acalmar minha respiração. Que droga. Foi só um
pesadelo, penso para mim mesma. Só um pesadelo.
*
Vou para a aula na manhã
seguinte com a aparência de quem não dorme há semanas. Pálida, com olheiras,
vista cansada. Não quero mais falar sobre essa tal casa, decido antes de chegar
à escola.
Hoje o dia é mais tranquilo.
Temos aula de literatura e a professora não dá a menor deixa para abrirmos a
boca. Ninguém fala do assunto, o que me acalma. Passo o intervalo todo na
biblioteca e tudo parece voltar a normalidade.
Claro que as notícias
continuam correndo soltas por aí. Os noticiários transmitem todos os dias o
caso misterioso, mas parece não haver novidades. Ainda não sabem de quem é o
sangue ou como ele surge. Não sabem se é criminal, paranormal ou alguma brincadeira
estúpida de mau gosto. Os fóruns na internet estão a todo vapor, esse é o
assunto mais comentado e discutido. A cidade toda está no maior bafafá, ouvir
falar que estamos ficando famosos, parece que até internacionalmente.
Talvez nunca encontrem a resposta.
Talvez o caso desapareça da mídia e logo ninguém mais se lembre dele. Talvez
seja só mais um desses casos que ameaçam a normalidade das coisas e por isso
são dados como mentira, calúnia ou um grande equívoco. Se fosse uma história do
Stephen King, talvez a casa explodisse e sangue jorrasse pela cidade toda. Se
fosse uma história do Hercule Poirot, talvez houvesse um assassinato para ser
descoberto e várias pistas para serem desvendadas na casa misteriosa. Mas como
é só uma história que eu me lembro, da minha adolescência, talvez eu tenha
aumentado alguns pontos, ou não. Talvez ela tenha existido, ou não. Talvez seja
só uma história para se contar numa sexta-feira treze qualquer...
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ResponderExcluirEu havia me esquecido que hoje era sexta-feira 13, obrigada por me lembrar! Acho muito gostoso entrar no clima de terror do dia, e ler um conto é uma ótima maneira de "celebrar". Acredito que faz parte da juventude de todo mundo essas histórias sobre acontecimentos sobrenaturais, esse mistério para saber o que aconteceu, se foi um crime, uma brincadeira ou algum contato do além. A sua história mostrou muito bem esse clima, a maneira como as pessoas se envolvem com o acontecimento, alguns rezam, outros ficam curiosos, outros investigam, ou até mesmo têm pesadelos, como a protagonista da sua história. É interessante como as histórias de terror ao mesmo tempo assustam e causam fascínio. Eu sempre tive vontade de saber mais sobre alguns casos misteriosos que apareciam nos noticiários. Muito obrigada por me fazer relembrar esses momentos :)
ResponderExcluirHeey!
ResponderExcluirGostei do conto! Confesso que não deu medo, mas ficou muito bom! Você escreve bem, haha ><
Se postar mais um conto, eu leio \o/
Abs!
http://leiturasilenciosaoficial.blogspot.com.br/2015/03/parceria-leila-kruger.html
Olá,
ResponderExcluirNossa, a sexta-feira 10 já passou, mas meu medo por histórias de terror não, por isso não cheguei a ler o texto, rsrs.
Beijos.
Memórias de Leitura - memorias-de-leitura.blogspot.com
Só me dei conta da sexta feita 13, no sábado dia 14, hahahaha. Antes eu morria de medo pelo que falavam, hahaha;
ResponderExcluirBeijos
intoxicadosporlivros.blogspot.com.br